Também estava garoando (eu juro que tentei sorrir, mas minha boca tava congelada)
Do you speak English?
Depois de passar por alguns soldados fortemente armados naquele campo ali atrás, finalmente cheguei à torre, mas o frio tava tão terrível que decidi não subir (blame on me).
Já que eu não iria subir na torre e não tinha comido nada até então, resolvi
tomar um chocolate quente ali embaixo.
Enquanto tomava meu chocolate, uma mulher com aparência humilde e com um lenço na cabeça se aproximou de mim e perguntou se eu falava inglês. Diante
de uma resposta afirmativa, ela me entregou um papel já bem amassado
que dizia que ela era da Bósnia e estava passando necessidades e blábláblá. Me solidarizei com a senhorinha e dei alguns trocados que eu tinha (eu não
podia dar muito, senão eu é que teria que pedir depois).
Feliz em realizar essa boa ação, segui meu plano de ir a pé até o Arco do
Triunfo, que não é muito long dali. Mas, antes de sair do perímetro da torre,
outra mulher com aparência humilde e lenço na cabeça me perguntou se eu
falava inglês. Diante de uma resposta afirmativa, ela também me entregou um papel (desta vez, plastificado) dizendo que era da Bósnia e bláblébli. Não é possível, é a máfia dos imigrantes! Eu não dei nada para essa aí, me senti um trouxa em cair na lábia da primeira, mas tudo bem.
My precious
Próximo ao Arco do Triunfo, vi um careca muito branco pegando algo no chão e olhando com uma cara de feliz. Quando passei perto dele, ele me mostrou que era um anel de ouro. "Lucky you!", eu disse, no que ele me respondeu: "No, lucky you!". Opa! Eu não, cara, eu não achei nada, não. Ele me entregou o anel e perguntou se era de ouro. O anel era bem pesado e realmente parecia ser de
ouro (momento ourives da ZL). Quando fui devolver-lhe o anel, ele se recusou e falou que eu podia ficar. Opa! Cara, que conversa estranha é essa? Ele disse
que era da Polônia e tal, e não sei o quê. Eu só estava esperando a hora que
ele viraria as costas para que eu jogasse aquele anel longe. Vai que o cara
chama a polícia e fala que eu roubei, ou sei lá... Papo vai, papo vem, eu preocupado, o cara de conversinha fiada, eu com medo, então ele faz menção
de ir embora, mas volta e pede um dinheiro, pois estava passando necessidades (pelo menos não era da Bósnia). Pensei rápido, entreguei-lhe o anel (não esse, o de ouro) e disse para ele vender o anel (ponto para mim). Ele ficou bravo, disse que não queria o anel, queria dinheiro. Ok, a situação tá ficando meio perigosa. Coloquei o anel em sua mão e a fechei (igual filme, sabe?). Ele ainda ficou me enchendo o saco, então dei os trocados de Libra que eu tinha no bolso (só pelo hue, mas foi uma péssima ideia) e queimei chão dali. Ele ficou puto, mas foi embora.
Poliglota
Atravessando a rua para chegar ao Arco, vi uma mulher com aparência humilde
e lenço na cabeça que veio me perguntar se eu falava inglês. Ah, mas eu já
estava esperto. Uma hora em Paris e muita gente já tinha tentado me passar a perna,
mas dessa vez não, dessa vez eu seria mais esperto. Olhei para ela e respondi
em bom e claro PORTUGUÊS: "Desculpa, não entendo". Ela olhou para mim e respondeu com um sotaque lusitano: "Português? Me dê um dinheirinho!". A mulher era uma pedinte poliglota!
Saí dali logo e foi até o Arco.
Fatos sobre o Arco do Triunfo: o arco é bem antigo. BEM antigo. E ele também é consideravelmente alto. Por ser tão antigo, ele não possui elevador, e os
degraus são bem baixos, o que torna a subida bem complicada.
Visão da base da escadaria (sente o drama)
Chegando lá em cima, como eu já disse, estava muito frio. Mas valeu a pena.
Foto mal tirada por conta do frio
Quem não chora não mama
Passado isso tudo, era hora de comer.
Como eu falo francês tão bem quanto um babuíno albino toca xilofone, achei melhor procurar um restaurante que tivesse o cardápio em inglês.
Fato sobre Paris: eles não gostam de outro idioma que não seja o francês.
Obviamente, não encontrei. Mas acabei encontrando um Starbucks, onde eu poderia simplesmente pegar um lanche e pagar, sem precisar falar nada (ou eu pensava que seria assim).
Peguei um pão preto com uma aparência estranha, uma Coca-Cola e pedi um muffin de chocolate, pois as únicas coisas que eu conseguia pronunciar em francês era muffin e chocolat. Foi então que percebi que poderia pedir para
esquentar o lanche. E por que não pedir, não é? Bem, o problema é que o cara não entendia uma palavra em inglês e eu não sabia pedir em francês. Depois de muita mímica e macaquice na frente do balcão, eu me fiz entender e ele
esquentou meu lanche, que até hoje eu não sei o que era e nem quero saber,
mas era gostoso.
Je ne parle pas français
Viu só que a foto anterior ficou ruim por causa do frio? Aqui eu tava no quentinho e a foto ficou boa.
No Louvre eu só passei por uma situação desconfortável quando pedi
informações para um guarda e, apesar de eu ter certeza que ele havia me entendido perfeitamente, fez questão de não me ajudar, a menos que eu perguntasse em francês. FDP. Mas tudo bem, o Louvre é o Louvre.
Ps: o quadro do Delacroix é mais ipressionante que a Mona Lisa.
Três coisas
Para finalizar, três coisas também aconteceram na volta.
Primeira coisa: tive problemas na imigração, pois não tinha minha passagem de volta para o
Brasil (embora eu estivesse indo para Londres e só voltaria ao Brasil no outro
dia). Por sorte, os ingleses são muito simpáticos e o cara da imigração me
deixou passar. Ele só me falou para andar sempre com a passagem de volta.
Segunda coisa: uma brasileira sentou na mesma cabine que eu no trem. Coincidência? Então veja só: ela morava na cidade vizinha à minha, passava
perto do meu bairro para ir trabalhar e trabalhava na mesma empresa que o meu pai.
Terceira coisa: lembra que eu dei meus últimos trocados de Libra para o careca polonês que queria me dar o anel (humm...)? Então, ao chegar em Londres, e estava sem dinheiro para compra a passagem do metrô. Perguntei para a
mulher da bilheteria se ela aceitava Euro, e ela me respondeu com a cabeça virada
sobre o ombro e um tom complacente: "No, dear no Euro here", e então um
arco-iris saiu de seus gentis olhos e eu deslizei de volta até o hotel por ele. Não, mentira. No aperto, acabei lembrando a senha do meu cartão de crédito e
comprei a passagem em uma máquina de autoatendimento.
É, aquele dia foi bem estranho, e eu nem falei como um cara com a roupa
melhor que a minha veio me aplicar o golpe da Bósnia e ainda tentou roubar o guarda-chuvas que eu tinha comprado em um Carrefour perto da Torre, nem
como tirei a sorte grande em uma promoção surpresa na Champs Élysées, ou como fiquei perdido no Louvre, já que não são histórias tão interessantes assim.
E você? Que história estranha tem para contar?
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