O Céu de Ícaro

Porque o céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu

Autodidática (ou O Princípio dos Patins)

Com a ~vasta~ experiência que tenho em sala de aula, seja como aluno ou professor, tenho uma certa autoridade ao falar sobre como os alunos se comportam na hora de aprender algo novo.
O mundo hoje é muito dinâmico, ninguém tem tempo para mais nada, tudo deve ser rápido e preciso, não pode haver nada supérfluo, e isso tem causado um impacto negativo na forma como as pessoas adquirem conhecimento.

The Wikipedia Years


Em tempos de Google e Wikipedia, o conhecimento parece ter se tornado um produto enlatado, que podemos utilizar e descartar a qualquer momento. Parece que tudo o que precisamos saber pode ser consultado facilmente em uma fonte externa, sem que precisemos guardar informações em nossos próprios cérebros.
Fiz questão de destacar a palavra parece, para chamar a atenção ao fato que, apesar de termos toda essa fonte de conhecimento ao nosso dispor, muita gente não a utiliza de forma adequada, ou nem a utilizam de forma alguma, ou pior, a informação ali apresentada nem sempre está correta.
Mas não é sobre isso que escreverei, apenas citei esses fatos para ilustrar como nossa sociedade pode "aprender" sobre qualquer coisa em segundos, e isso nos tem prejudicado, e muito.

Aprendendo com a queda




Sou do tipo de pessoa que não gosta de pedir ajuda, prefiro me virar e errar várias vezes a ter alguém me indicando os passos. Alguns podem achar que isso é coisa de orgulhoso e um desperdício de tempo precioso, afinal, por que tentar algo e falhar repetidas vezes se alguém pode rapidamente me ensinar a fazer aquilo. Bem, aí entra o que eu chamo de "O Princípio dos Patins".

Quando eu era pequeno, minha rua não era asfaltada (era o inferno em forma de lama), até que um dia finalmente a prefeitura prometeu asfaltar. Ao saber disso, pedi um patins de presente aos meus pais, mesmo não sabendo andar e não conhecendo alguém que o tinha, afinal, ninguém anda de patins em chão terra.
Quando o asfalto finalmente chegou à minha rua, ganhei os meus tão esperados patins e fui logo tentar andar. Confesso que o começo foi extremamente frustrante, pois eu não conseguia sequer sair do lugar. Mas eu queria andar, e persisti. Todos na rua ficavam observando e rindo de mim tentando por horas andar e sempre me esborrachando, até que notei algo interessante. Sempre que eu caía, minhas pernas se abriam em direções opostas, pegando mais velocidade e me fazendo cair com muita força no chão. Resolvi então aplicar isso à minhas tentativas de andar, e comecei a jogar uma perna de cada lado, como eu fazia quado caía. Em pouco tempo comecei a andar com segurança, e logo os que ficavam rindo de mim começaram a me pedir para ensiná-los também. Em pouco tempo, minha rua estava cheia de patinadores.
Esse acontecimento me levou a perceber que quando tentamos algo várias vezes e erramos, reconhecemos o erro e aprendemos com eles. Quando conhecemos bem os erros, sabemos como evitá-los com segurança. Infelizmente, muitas pessoas querem aprender algo (seja um novo idioma, seja uma matéria de vestibular) instantaneamente. Elas acreditam que o professor, instrutor ou seja lá quem for tem a obrigação de fazê-las entender tudo sobre o assunto de forma mágica e indolor.
Ao tentar aprender algo novo sem passar pelos estágios da dor e do sofrimento (escolho palavras aleatoriamente em contos do Allan Poe para por em meus textos), a pessoa perde o que é essencial na aprendizagem: o erro.
Aprendemos com nossos erros, essa é a realidade. Talvez até seja possível aprender algo de forma descomplicada, mas você terá dificuldades em agir quando um problema aparecer, já que os erros durante o aprendizado o prepara para lidar com qualquer eventual revés, e a autodidática proporciona isso de forma eficiente.

Um dia ainda retomo o assunto, estou muito cansado para escrever mais agora.