Decidi seguir o conselho de
alguns amigos e fazer uma viagem. A Europa me parecia uma boa escolha, afinal,
sempre quis conhecer algumas cidades icônicas como Paris, Londres, Veneza...
Sabia que se eu visitasse essas cidades e continuasse nesse estado depressivo
em que me encontrava, era porque meu caso não tinha cura.
Montar meu
roteiro de viagem foi terapêutico. Por algum tempo esqueci todos meus problemas
e comecei a ficar empolgado com a viagem. Essa ideia de férias, afinal, estava
me ajudando a superar a dor.
Depois de
vinte dias desde que havia começado a me programar e uma longa viagem, eu finalmente
chegava ao Charles de Gaulle.
O ar do
aeroporto já parecia fazer meu coração bater mais acelerado, ou talvez fosse
apenas emoção. Eu já estava a tanto tempo em depressão que havia me esquecido
de como era ter sentimentos bons trazidos à tona.
Apenas
deixei minhas coisas no hotel e resolvi que, apesar do clichê, a torre Eiffel
seria o primeiro lugar eu iria visitar.
Fui até a
estação de metro mais próxima do hotel, já que utilizar o transporte público
seria a melhor forma de interagir com os parisienses e observas seus costumes.
De fato, isso vale para qualquer lugar.
Confesso
que me senti um pouco idiota quando, ao parar o trem, fiquei alguns segundos esperando
que a porta se abrisse e um francês apressado me empurrou e apertou o botão que
abria a porta. Eu não sabia que em Paris, você deveria abrir a porta do metrô,
seja por meio de um botão ou uma maçaneta. Foi neste momento que percebi eu,
por mais que você pesquise sobre um lugar, ainda existem pequenas coisas que
você só descobre estando lá, e essa é a beleza de viajar. Essas pequenas coisas
me distraiam de meus demônios.
Desci na
estação Ecole Militaire, a alguns quarteirões de distância da torre, pois
queria caminhar um pouco e sentir o ar francês antes de chegar ao meu destino.
Apesar do céu
limpo, aquele dia estava particularmente frio, e mesmo que eu estivesse
vestindo um grosso casaco, ainda não era suficiente para aquela temperatura e
aquele vento.
Ao começar
a subir as escadas que levavam à rua, um misto de emoção e frio tomou conta do
meu corpo e eu tremi. A sensação de que ao colocar os pés na superfície eu
teria um vislumbre da magnífica torre só me fazia tremer mais.
Quando
finalmente cheguei ao nível da rua, alcei a vista e... nada. Eu não podia ver a
torre em canto algum. Eu sabia que a estação não ficava tão perto dela, mas eu
estava certo de que era possível vê-la dali.
Vi o prédio
da escola militar mais adiante e caminhei até lá. Ao chegar em frente ao prédio,
olhei para o lado e, como se emoldurado pelo mur de la paix, estava a imponente torre. Sentei-me nos degraus
daquele monumento à paz e, durante algum tempo, esqueci o frio e qualquer outro
problema que me afligia. Naquele momento, a torre era minha guardiã. O champ-de-mars se estendia como um tapete
verde que conectava minha guardiã metálica em uma ponta, a mim, na outra.
Durante os minutos que passei ali – que podem ter sido cinco ou cinqüenta – o mundo
pareceu parar, e meus problemas pareciam pequenos.
Atravessei
o campo e, apesar do frio extremo, subi o monumento. Ao chegar no topo, pude
ter uma visão geral de toda a cidade. Ao perceber, ao longe, o arco do triunfo,
fechei um olho e estendi o polegar até cobri-lo completamente. Então abri a mão
e cobri metade da cidade. Nesse momento, citando mal algum filme antigo, eu
disse baixinho:
- Paris é
minha!