O Céu de Ícaro

Porque o céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu

Um breve texto sobre o amor

O amor é simples, o amor é puro, o amor é eterno, certo? Não concorda? Tudo bem, eu te entendo.
É comum dizer que apenas quem amou já sofreu de verdade, mas, se todos buscam o Amor, por que ele é tão complicado?

Uma lenda grega diz que, quando criados, os seres humanos possuíam duas cabeças, quatro pernas e quatro braços, o que, segundo a lenda, permitia um movimento circular ágil e gracioso. Sendo seres tão superiores, os humanos teriam tentado usurpar o poder dos deuses. Ao final da batalha, os deuses ganharam, e como castigo, Zeus decidiu separar as duas metades, condenando cada pessoa a buscar incessantemente a sua outra metade.

Essa lenda é poética, mas não estamos aqui hoje para isso, então vamos ser mais científicos.

De fato, a paixão age como um tipo de entorpecente. Quando uma pessoa se apaixona, algumas substâncias químicas são liberadas pelo cérebro, como adrenalina, noradrenalina, feniletilamina, dopamina, oxitocina, a serotonina e as endorfinas. A adrenalina, por exemplo, causa um estado de excitação na pessoa, acelerando o batimento cardíaco, enquanto a dopamina causa uma sensação de felicidade.
O "problema", como dito anteriormente, é que a paixão age como um entorpecente, e como tal, o corpo começa a se adaptar e a criar resistência contra essas substâncias, e é aí que o negócio fica sério.

Quando o efeito das substâncias citadas acima passa, os defeitos da pessoa amada deixam de ser ignorados involuntariamente e têm-se a impressão de que ela mudou. Muitos relacionamentos acabam justamente por isso, por ter-se a impressão que a pessoa mudou, quando, na verdade, eram apenas as substâncias químicas do seu cérebro que te impediam de perceber os defeitos (science, bitch!).

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Calma, jovem. Há solução.

A partir de agora, darei uma opinião totalmente pessoal, não científica e provavelmente errada sobre relacionamentos.

Sabe aquele(a) amigo(a) que você tem há 10, 15, 20 anos? Pois, bem, como é possível manter uma amizade por tanto tempo e não conseguir manter um relacionamento amoroso?










Oi?
Quê, você tá esperando que eu responda? Mas eu é que queria uma resposta.
Ok, vamos lá.

Um relacionamento deve incluir mais que atração física e mera idealização de como sua outra metade deve ser, um relacionamento deve ser uma superamizade².

Dã, mas que conclusão óbvia, quero meu dinheiro de volta, você não acrescentou nada.

Calma, minha criança. Em primeiro lugar, você não pagou nada (ಠ_ಠ). Em segundo lugar, por mais óbvia que essa conclusão possa ser, durante toda minha vida, notei que a maioria das pessoas não vê esse fato simples (eu mesmo passei a ver há não muito tempo.

Vamos lá, vou tentar explicar da forma mais coerente que eu conseguir (o que provavelmente ainda será bem confuso):

Imaginemos um casal: Leoben e Laura (tentem descobrir de onde eu tirei esses nomes ;)).
Leoben gosta de video-game, quadrinhos e canais nerds do YouTube.
Laura gosta de fazer compras, revistas de moda e Big Brother.
Laura e Leoben estavam há um ano casados, até que perceberam que seu casamento estava sendo mantido por pura inércia, e que a ~chama inicial do amor~ estava se apagando.
Os dois tentaram de tudo para reaquecer a relação, mas nada ajudava.
As brigas começaram a ficar mais frequentes.
Com o tempo, os dois percebem que, apesar de juntos, um não participa da vida do outro, e por mais que tentem, percebem que têm gostos incompatíveis demais.
O casamento acaba.

Essa historinha boba foi criada para explicar uma coisa: a melhor forma de sermos felizes, é sendo nós mesmo, sem censura, sem objeções. Uma forma melhor ainda de sermos felizes é quando podemos ser nós mesmos com outra pessoa.
No caso da história acima, os dois, por mais que se gostassem, não conseguiam ser eles mesmos o tempo todo, pois, quando o eram, acabavam se afastando, e quando tentavam se reaproximar, deixavam de ser eles mesmos para tentar agradar o outro.

Claro, que existem casos e casos, e que esse casal poderia ter dado certo, mas as chances são pequenas. 
É claro também que ninguém é 100% compatível, sempre haverá algo que desagrade o outro. Por isso, o ideal é analisar as compatibilidades e incompatibilidades em uma balança e ver qual lado pesa mais.

Eu poderia dar inúmeros exemplos reais aqui sobre isso, mas eu prefiro criar histórias bobas para expor minhas ideias, deal with it!

Os relacionamentos mais duradouros tendem a ser aqueles em que um participa ativamente da vida do outro, como uma amizade, mas melhorada.

É comum vermos hoje relacionamentos que se baseiam em aparência física, status ou dinheiro (ou tudo junto). Se você deseja um relacionamento sério, fuja disso como eu fujo de testemunhas de Jeová em manhãs de domingo (#prontofalei).

O amor, afinal, não deve ser baseado em aparências, e sim em uma doação mútua de duas vidas. O amor, por exemplo, é se fotografar pelas ruas com um tutu rosa apenas para alegrar a esposa com câncer ou vestir uma placa e sair procurando alguém que possa doar um rim para a companheira. O amor não se manifesta necessariamente quando você faz o que esses dois fizeram, mas sim na disposição de fazer isso caso seja necessário. O amor é mais do que ter alguém que goste de você, é fazer a mesma gostar de você a cada dia.

E qual a conclusão que tiramos de tudo isso?
Que eu sou maluco o bastante para acreditar que tudo pode ser resolvido com um pouco de ciência e um monte de espírito livre.

Para finalizar, fique aí com um cara que realmente sabia falar sobre o assunto:

Busque Amor novas artes

Busque Amor novas artes, novo engenho
Para matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,

Que dias há que na alma tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê;

Luís Vaz de Camões
(1524-1580)